Indústria de processos contra as empresas contribui para elevar custos e afastar investidores do setor
Por Painel Mercantil
27 de junho de 2025
Nos últimos cinco anos, as três maiores companhias aéreas do Brasil – Latam, Gol e Azul – recorreram à recuperação judicial (Chapter 11) para reequilibrar suas contas. Além dos desafios econômicos pós-pandemia e da alta do dólar, um fator tem se destacado como um dos principais vilões da crise no setor: a judicialização excessiva.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que os custos com processos judiciais movidos por passageiros saltaram de R$ 586 milhões em 2018 para R$ 1,16 bilhão em 2023. Esse aumento é atribuído, em grande parte, a uma “indústria de processos”, na qual empresas e escritórios de advocacia buscam ativamente passageiros para ações judiciais contra atrasos, cancelamentos e extravios de bagagem .
Enquanto nos Estados Unidos há uma ação judicial para cada 1,25 milhão de passageiros, no Brasil, essa proporção é de uma ação para cada 227 passageiros . A Latam, por exemplo, revelou que o Brasil concentra 98% dos processos judiciais do grupo, mesmo representando apenas metade de sua operação global .
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), cerca de 90% das ações são por dano moral, com indenizações médias de R$ 6,7 mil . Esse cenário tem levado as companhias a repassar parte desses custos para o preço das passagens, estimando-se que cada bilhete fique R$ 10 a R$ 12 mais caro devido aos litígios .
Os atrasos e cancelamentos de voos são as principais causas de reclamações. Em novembro e dezembro de 2024, o Brasil registrou as maiores taxas de atraso dos últimos quatro anos, com 12,7% e 12,4% dos voos, respectivamente, atrasando mais de 30 minutos .
Apesar disso, as companhias brasileiras figuram entre as mais pontuais do mundo. A Latam ocupa a 4ª posição global, e a Azul, a 6ª, segundo a Cirium . Especialistas argumentam que muitos atrasos são causados por fatores externos, como condições climáticas e questões operacionais, mas mesmo assim, as ações judiciais se multiplicam.
A Abear identificou que 10% dos 400 mil processos analisados entre 2020 e 2023 foram movidos pelos mesmos 20 advogados ou escritórios, indicando uma prática de captação em massa . Algumas empresas chegam a anunciar em aeroportos ou comprar direitos creditórios de passageiros antes mesmo de tentar resolver o problema diretamente com as aéreas .
O CEO da Azul, John Rodgerson, criticou a situação:
“O Brasil concentra 92% das ações judiciais do setor no mundo, mas representa apenas 3% dos voos globais. Isso encarece as passagens e afasta empresas do mercado brasileiro” .
A judicialização excessiva no setor aéreo brasileiro é um problema complexo. Se, por um lado, os passageiros têm direito a reparação por falhas no serviço, por outro, a exploração desse mecanismo tem elevado custos e reduzido a competitividade do mercado.
Enquanto o governo e as empresas buscam soluções, como o acordo entre a Anac e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) para reduzir litígios , os consumidores devem estar atentos aos canais administrativos de reclamação antes de partir para ações judiciais.
O desafio é encontrar um equilíbrio que proteja os direitos dos passageiros sem asfixiar financeiramente as companhias aéreas, garantindo um setor aéreo mais justo e sustentável para todos.
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